O Mistério da Quaresma proclamado pela Liturgia da Palavra no Ano B
- São Marcos -
Anúncio da Nova Aliança no Mistério Pascal de Cristo

Na liturgia da Missa durante o tempo quaresmal percebemos, se dela, obviamente, costumamos participar com assiduidade e atenção, que Deus, verdadeiramente, vem ao nosso encontro, dando as suas respostas às nossas tantas interrogações; dando as certezas para as nossas esperanças; indicando os caminhos para os nossos dramas; nos anunciando o que Ele cumpriu e quer cumprir ainda hoje para nós, para a nossa real libertação. De domingo a domingo, ou ainda, no nosso próprio dia a dia, Deus manifesta o seu plano de amor e nos indica quais são as etapas do itinerário espiritual para a nossa salvação.

A Quaresma é, antes de tudo, o tempo da proclamação do itinerário da nossa salvação, indicando assim, por intermédio da Palavra de Deus, os caminhos pelos quais nós devemos andar, sem no desviar, apesar de tantas serem as distrações e tentações do mundo com suas falsas promessas de felicidade, que são, em realidade, completamente efêmeras. O cristão cumpre, portanto, esse itinerário percorrendo as grandes etapas da história da salvação, anunciadas de modo bem evidente nas primeiras leituras de cada domingo desse tempo: a aliança de Deus com Noé (I Domingo: Gn 9,8-15); o sacrifício de Abraão (II Domingo: Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18); o Decálogo (III Domingo: Ex 20,1-17); o juízo final sobre a infidelidade do povo (IV Domingo: 2Cr 36,14-16.19-23) e a Nova Aliança (V Domingo: Jr 31,31-34). Nesses vários anúncios a Palavra proclama, muito mais com os próprios fatos, do que, nomeadamente, com as palavras, como Deus opera o desígnio da salvação: chama o homem à fé, à aliança, à vida e sobre ele faz repousar o seu Espírito, que faz novas todas as coisas.

Esse histórico caminho salvífico se desenvolve no ciclo dos três anos das leituras com especificações diversas, cada um desses anos de acordo com o Evangelista que lhe é colocado à testa; são, portanto, três caminhos a serem percorridos na celebração do único mistério: o caminho batismal, que tem a sua frente o Evangelista São Mateus no Ano A, o caminho cristológico-pascal, que é guiado pelo Evangelista São Marcos no Ano B, no qual nos deteremos a seguir, e o caminho penitencial, que tem à testa o Evangelista da Virgem Santa Maria, São Lucas, no Ano C.

As leituras utilizadas no Ciclo Litúrgico do Ano B colocam a atenção no tema da aliança e do mistério pascal de Cristo. Elas são um convite para descobrir o Cristo, que em seu mistério pascal, sacrifica a si mesmo para a nossa salvação, para renovar a aliança, para que ela se torne "nova e eterna", não sinalizada mais pela carne, mas pela experiência no coração, que é transformado.

No I Domingo da Quaresma: nos deparamos com a narrativa das tentações e por meio delas vem demonstrada a grande luta que Jesus deverá conduzir com o mal, até vencê-lo com a sua morte e ressurreição (Mc 1,12-15). O próprio Noé já havia empreendido essa luta, cumprindo a escolha decisiva por Deus, sendo salvo e concluindo uma aliança com o Senhor (Gn 9,8-15); em tudo isso vem percebido um anúncio batismal (1Pd 3,18-22), pelo qual todos nós nos tornamos filhos no Filho e, essa consciência de filiação, correspondendo à fidelidade do dom, faz com que nos tornemos, também nós, aptos para o combate e com e no Espírito, verdadeiramente, vencedores.

No II Domingo da Quaresma: percebemos que o Pai é quem toma a iniciativa em relação a manifestação do seu supremo amor; isso se faz, bem concretamente, no mistério da transfiguração, no qual vem revelado o mistério da cruz, Ele proclama Jesus, como seu Filho, a quem todos nós devemos escutar (Mc 9,2-10); mas, apesar desse Filho estar completamente disposto a uma obediência sem reservas, não lhe poupa da morte (Rm 8,31b-34)) e o doa a nós, do mesmo modo que Abraão iria oferecer em sacrifício a Deus o seu filho, o filho da promessa, o filho do sorriso (Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18). Nos domingos sucessivos o próprio Jesus revela que aceitou o desígnio do Pai, de tornar-se o templo no qual se oferece o novo sacrifício pela nossa salvação. Contemplamos a glória daquele cuja imolação seremos nós os beneficiários, pois por meio dela nos deu a vida nova. Ele é ao mesmo tempo sacerdote, altar e cordeiro.

No III Domingo da Quaresma: nos encontramos com Jesus crucificado (1Cor 1,22-25) e Ele é, no seu corpo, o novo templo que, aparentemente destruído, será, gloriosamente reedificado em três dias (Jo 2,13-25), situação que leva a antiga lei ao seu pleno cumprimento (Ex 20,1-17), demonstrando, desse modo, o zelo pela casa de Deus que o devora, fazendo com que sejam expulsos dela os vendilhões do Templo, pois fazem, de modo deliberado e interesseiro, do lugar da Presença uma casa de comércio e, conseqüentemente, de lucro pessoal e interesseiro, não o percebem mais, portanto, com o lugar privilegiado da morada de Deus.

No IV Domingo da Quaresma: somos testemunhas do retorno do exílio (2Cr 36,14-16.19-23) e percebemos claramente como acontece a libertação do pecado (Ef 2,4-10), esse retorno e essa libertação são a salvação que cristo elevou sobre a cruz, como a serpente no deserto, conduz a todos os homens: o seu juízo é a salvação (Jo 3,14-21). Ele é a vida e, em sua vida, teremos a luz, vida em verdade, que faz com as cavernas tenebrosas do homem sejam iluminadas pela luz deífica.

No V Domingo da Quaresma: Jesus com a explícita demonstração de cumprir em tudo e plenamente à vontade do Pai, testemunhando a sua obediência até a morte e morte de cruz (Hb 5,7-9), é, na verdade, o grão de trigo que, caído na terra, morre, mas depois de morto produz muito fruto, sendo desse modo, nesse seu gesto de humildar-se, paradoxalmente, glorificado (Jo 12,20-33); Nele, de fato, é que conclui-se a aliança que livra do pecado (Jr 31,31-34).

Se nessa vida somos continuamente peregrinos, viajores, caminhemos nesse itinerário que a Igreja como Mãe e Mestra, traçou para nós.