HORA DA SAUDADE
Vere prius volucres taceant cicadae. Ovídio, 1 Art. Am. 271
É impossível não cantarem as aves na primavera e as cigarras no estio
At mecum raucis, tua dum vestigia lustro,
Sole sub ardenti resonant arbusta cicadis. Virgílio, Ecloga II, 12-13.
Enquanto sigo teus passos, comigo sob o sol ardente, as arvoredos ressoam com roucas cigarras neles pousadas.
A 'Hora da Saudade', tão dolente
Sinto-a soar febril em Rio Pomba,
No mês de outubro de ar parado e quente,
Quando na serraria o sol se tomba.
Aqui e ali, um canto intermitente
Do alto arvorado dos quintais ribomba.
Sonoro e forte, longo e comovente,
As portas d'alma brandamente arromba.
Um pesar ou saudade, não sei quê.
Nostalgia, talvez, traz este canto
Da natureza esplêndida mercê.
Um coral de canções doces, bizarras,
Que, de graça e gentis, inflamam tanto,
Asas brandindo, entoam as cigarras.
Rio Pomba, 25/10/1980
Dom Oscar de Oliveira