À semana inaugural da faculdade Escola Dominicana de Teologia (E.D.T.), onde leciono direito canônico, compareceu, no primeiro dia, frei Carlos Josaphah, OP. O eminente e respeitável teólogo dominicano proferiu uma palestra assaz bonita sobre o Concílio Vaticano II.

Concordei com tudo o que disse o conspícuo frade, que enalteceu deveras o Concílio. Com efeito, baseei minha tese de doutorado nesse evento kairótico e maravilhoso, findado na segunda metade do século XX, mas fadado ao terceiro milênio. Mais: estribo meu dia a dia, não só religioso, no Concílio.

Sem embargo, não pude aderir a uma ilação do palestrante, segundo a qual o Concílio Vaticano II é o mais importante da história da Igreja. Como escrevi acima, acho mesmo que o Concílio Vaticano II é um "novo pentecostes", uma "primavera" no itinerário do povo de Deus. Nada obstante, em minha opinião, o Concílio de Trento foi mais importante que o Vaticano II. Por quê? Porque em Trento, os padres conciliares praticamente refizeram o edifício doutrinal e disciplinar da Igreja. Todo o substrato da teologia hodierna constituiu-se no "concílio da reforma católica". De outra banda, o Concílio Vaticano II teve cunho pastoral e levou em conta a integralidade da doutrina reformulada no Concílio de Trento. Do ponto de vista da formulação da fé, somos todos tridentinos! Não vale o argumento, expendido pelo frade, de que ao Concílio Vaticano II aportaram bispos do mundo inteiro. Ora, esse fato realmente engrandeceu o último concílio. Todavia, um concílio ecumênico não é uma "assembleia constituinte"; um concílio é a congregação geral dos sucessores dos apóstolos presidida pelo sucessor de são Pedro e assistida pelo Espírito Santo.

O relevante é que, na leitura dos documentos do Concílio Vaticano II, levemos de boa mente a recomendação do santo padre, segundo a qual a melhor exegese é a da "continuidade", e não a da "descontinuidade", pois um concílio não revoga o outro.

Edson Luiz Sampel