O Documento de Aparecida, resultado da 5ª Conferência do episcopado latino-americano (realizada em 2007, com abertura feita pelo Papa Bento XVI), fala da necessidade de renovação, revitalização e mesmo transformação das estruturas da Igreja, a começar pela Paróquia. Fala do esforço a ser empreendido para superar uma pastoral de manutenção e da necessidade de uma conversão pastoral.
É nesse contexto de desafios que emerge o fenômeno da migração religiosa, que vem acontecendo de forma intensa há pelo menos duas décadas. Os dois últimos censos (2000 e 2010) oferecem um mapa dessa migração, mostrando a diminuição considerável do número de católicos no Brasil. Em 1990, os católicos somavam cerca de 83% da população brasileira; em 2000, somavam 73,6% dos brasileiros e, em 2010, diminuíram para 64,6%. Tais dados trazem preocupação à Igreja, chamada, hoje, a responder a importantes e novos desafios:
1. O desafio da vida urbana. As paróquias hoje são, geralmente, demograficamente densas, territorialmente grandes, especialmente as localizadas em áreas periféricas das grandes e médias cidades. Daí a necessidade de uma descentralização por meio da existência, em cada paróquia, de outras comunidades eclesiais, além daquela que se reúne na igreja matriz. A expressão "comunidade de comunidades" indica a paróquia em sua presença expandida, formando como que uma rede de comunidades. Onde surge um novo bairro, sem demora, a Paróquia deveria providenciar espaço físico (terreno) para uma nova comunidade.
2. O desafio da identidade. Uma comunidade eclesial será sempre constituída levando em conta as três dimensões fundamentais da vida da Igreja: palavra – liturgia – caridade. A Palavra de Deus chega pelo anúncio do evangelho e pela catequese em todos os níveis, na Igreja. A caridade é o testemunho visível de amor ao próximo, especialmente aos pobres. Tal testemunho dá credibilidade à presença dos cristãos chamados a ser "luz do mundo". A vida litúrgica e demais aspectos da vida da Igreja têm seu centro na Eucaristia, especialmente a dominical, celebrada no dia do Senhor. Daí a necessidade da presença do sacerdote, a importância de uma eficaz pastoral vocacional e a valorização do ministério ordenado do presbiterato.
3. O protagonismo dos leigos. Cada cristão, isto é, cada batizado, é a presença viva da Igreja no ambiente da sociedade onde ele vive, trabalha, se relaciona. É no mundo e para o mundo que ele dá testemunho público de sua fé e o bom exemplo de pai, mãe, profissional, cidadão... Através do leigo, a Igreja se faz presente nas realidades seculares (presença do mundo no coração da Igreja e presença da Igreja no coração do mundo). Para que isso aconteça, é necessário que o leigo seja valorizado, incentivado, formado e a ele sejam confiados serviços (ministérios), a partir de seus dons (carismas).
Há serviços que os leigos realizam no âmbito interno da Igreja: anúncio da palavra (ministros da palavra), catequese, serviço do altar (ministros extraordinários da sagrada comunhão, salmistas), ministério da coordenação, administração, pastoral dos enfermos, serviço da caridade, isto é, aos pobres, cf. palavras do apóstolo Paulo: nós só nos deveríamos lembrar dos pobres, o que, aliás, tenho procurado fazer com solicitude (Gl 2,10). E a opção preferencial pelos pobres se expande considerando a dimensão profética e transformadora da missão dos leigos, sendo fermento, sal e luz (agente) na construção de uma sociedade justa e solidária.
4. Novas expressões. A Paróquia – com seu pároco, suas comunidades, pastorais e conselhos – deve ser o lugar de acolhida das novas realidades ou novas expressões da vida eclesial, como os movimentos, as novas comunidades, as comunidades de vida, as associações. Deve abrir-se também à possibilidade da existência de comunidades e paróquias ambientais, ou seja, aquelas cuja presença e organização transcendem a territorialidade, uma vez que contará com membros participantes de diversos lugares.
5. Novos métodos. Novo ardor e novas expressões, no dizer do Beato João Paulo II, requerem novos métodos. A conversão pastoral requer abertura a realidades novas e a coragem de inovar e não fazer sempre as mesmas coisas, utilizando-se das mesmas estruturas, muitas vezes ultrapassadas. Supõe também, e antes de tudo, conversão pessoal, mudança de coração e de vida, para, depois, sair de si e ir ao encontro dos irmãos, especialmente os afastados, dando-lhes acolhida, propondo um retorno. Acolher de modo especial os jovens, os pobres, doentes, os "contritos de coração", (tristes, angustiados, deprimidos, solitários, etc...), oferecendo-lhes amparo.
6. Novo ardor (Família e missão). A Igreja, família dos discípulos de Jesus Cristo, é formada pelas famílias. A pastoral familiar empreende esforço para ajudar os casais e as famílias, buscando respostas a novas situações familiares, como a dos casais em segunda união estável e outras ... A Igreja ajudará as famílias a educarem seus filhos na fé, na piedade, na freqüência aos sacramentos, numa conduta exemplar. Do novo ardor cristão nas famílias decorre um novo ardor vocacional e missionário.
7. Anúncio e Catequese. Não se descuide da transmissão da fé (católica), a partir de um processo contínuo de iniciação cristã (catecumenato) e formação catequética e doutrinal em todos os âmbitos e para todas as idades. Serve de inspiração o Sínodo para a "Nova evangelização para a transmissão da fé cristã", acontecido em outubro de 2012, e que contou com a participação de cerca de 400 pessoas do mundo inteiro e a presença do então Papa Bento XVI.
A perda de fiéis católicos e os inúmeros desafios do mundo urbano deveriam suscitar na Igreja uma nova missionariedade, um novo esforço, um novo entusiasmo evangelizador. Isso vem do próprio mandato do Senhor ressuscitado aos apóstolos: "Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16,15). E também: "Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos" (Mt 28,19-20). E ao prometer e anunciar a vinda do Espírito Santo: "vós sois testemunhas disso" (Lc 24,48).
O documento de Aparecida afirma que a "paróquia como comunidade de comunidades é a célula viva da Igreja e o lugar privilegiado no qual a maioria dos fiéis tem uma experiência concreta de Cristo e a comunhão eclesial"(DAp. N. 170).

Assim, o presente texto foi elaborado tendo como primeira referência a vida e a prática de Jesus. Ele é o modelo para nos orientarmos na missão de transformar a estrutura da paróquia em comunidade de comunidades. Em seguida, apresentam- se, de modo sintético, alguns elementos que a tradição cristã condensou como traços fundamentais da vida eclesial. Iluminados pela Palavra e pela tradição teológica serão identificados alguns desafios da realidade atual para a vida paroquial. Finalmente, apresenta- se um conjunto de propostas pastorais tendo em vista a renovação paroquial.

Este texto segue a metodologia das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2011- 2015), por isso, parte de Jesus Cristo: "Nele, com Ele e a partir d'Ele
mergulhamos no mistério trinitário, construindo nossa vida pessoal e comunitária". Essa opção metodológica implica uma atitude de constante diálogo com a realidade social e pastoral, assumindo uma clara postura de respeito e de acolhida das experiências da prática eclesial. Por isso este é um texto de estudo que tem por finalidade suscitar reflexões, debates e revisões da prática pastoral. Quanto mais membros de nossas comunidades puderem conhecê- lo e adaptá- lo aos diferentes contextos, mais chance se terá de obter êxito no processo de construção da nova paróquia.

Recuperar a comunidade como dimensão essencial da vida cristã
"Comunidade de Comunidades: uma nova Paróquia". A expressão "comunidade de comunidades" é mais antiga, mas ganhou força no Documento de Aparecida, em 2007 (DAp, 309), para descrever o que é a Igreja. Em 2011, os Bispos do Brasil incluíram essa expressão como uma das urgências da ação evangelizadora, expressas nas Diretrizes Gerais para o Brasil.
Nesta assembléia, os Bispos juntaram a essa expressão "Comunidade de Comunidades" uma outra idéia, a de renovar as paróquias para que se tornem mais adequadas à realidade do mundo de hoje.
Renovar as Paróquias
As paróquias existem desde os primeiros séculos do cristianismo, e persistem até hoje como ponto de referência mais próximo e visível para o povo cristão encontrar-se com Deus. Todos identificam a Paróquia com um determinado território, que tem como centro a Igreja paroquial, e as comunidades que fazem parte dela são as Capelas, espalhadas por esse território. Os fiéis que residem nesse território fazem parte da mesma paróquia, e ali buscam os serviços religiosos de que necessitam, sobretudo a missa dominical, as orações, e os sacramentos em geral. Esse quadro simples, mas ele, não descreve mais a Paróquia de hoje.
A vida urbana e as grandes mudanças na cultura atual questionam a instituição paroquial. Nas cidades, já não há essa delimitação territorial nem pertença a uma paróquia. A facilidade de locomoção leva os fiéis a procurarem o seu ambiente de fé independente do território paroquial. Muitos já não têm mais o sentido de pertença a uma comunidade definida. Os meios de comunicação colocam dentro de casa a missa da Canção Nova, do Santuário de Aparecida ou do Pai Eterno, da Rede Vida, de rádios locais, regionais ou nacionais (grifo nosso), e é possível se associar a essas comunidades mais intensamente que à Igreja local, são contribuintes fiéis do dizimo. Muitos até questionam se não estaria na hora de extinguir a paróquia, e partir para outras formas de organização da vida religiosa. Mas quais seriam essas outras formas?
Os bispos da América Latina, em Aparecida, reafirmaram a importância da paróquia, e pediram que fosse renovada. Na continuação do Documento de Aparecida, também as Diretrizes Gerais afirmam essa necessidade. (Renovar a Paróquia deve ser a prioridade de nossas dioceses, grifo nosso). Mas como fazer isso? Uma possível resposta está sendo proposta agora pelos Bispos do Brasil, na última Assembléia Geral, acontecida em Aparecida, de 10 a 19 de abril. O documento de estudos, aprovado pela CNBB se chama "Comunidade de Comunidades: uma nova Paróquia", e nós precisamos conhecer essa proposta.

Por que recuperar a Comunidade

Hoje se fala muito em comunidade. Comunidade paroquial, comunidade escolar, comunidade econômica, comunidade familiar, e até comunidades virtuais, espalhadas pelas redes de computadores. Fala-se muito, mas, na realidade, vivemos num mundo onde cada um vive para si. Um mundo cada vez mais anônimo, pessoas isoladas pela competição e fechadas no individualismo, uma solidão de doer. As famílias que deveriam ser a comunidade mais próxima, e de íntima convivência, desintegram-se. Os meios de comunicação, que deviam aproximar as pessoas, acabam distanciando: não é difícil ver uma família na sala, onde alguns olham calados para a TV, enquanto outros estão conectados, cada um com seu celular ou computador... São os tempos de hoje.

Guardadas as proporções, o mesmo aconteceu no tempo de Jesus: O Império Romano havia transformado rapidamente as estruturas da sociedade. O povo de Israel, que tinha por tradição uma forte experiência familiar, estava em grande decomposição, for força da nova cultura romana que misturava diversos povos. As "tradições paternas" do judaísmo se quebravam na maré forte de novos costumes. Nesse contexto Jesus começa a reconstruir o sentido de "comunidade". Primeiro, convida os apóstolos, forma com eles uma pequena comunidade bem unida. Depois começa a conquistar discípulos formando uma nova família. Quem é minha mãe, quem são meus irmãos? – pergunta Jesus. "São aqueles que fazem a vontade do Pai, esses são meus irmãos" (cf. Mc 3, 34-35). Na nova comunidade de Jesus, a lei maior é o amor, a autoridade é serviço, a reconciliação é a prática diária, a partilha dos bens é a regra. Essa nova comunidade de Jesus, com a pregação dos primeiros discípulos, se espalhou rapidamente pela Galiléia. E depois da ressurreição mais ainda, quando "o Senhor ia ajuntando à comunidade dos discípulos milhares de outros que deviam ser salvos" (cf. At 2,47). É muito claro que sem comunidade não há como viver nesta nova família fundada por Jesus.
À luz da experiência dos primeiros discípulos, o que seria, hoje, recuperar a comunidade? Como fazer das nossas paróquias o lugar da experiência de Cristo vivo, o lugar da fraternidade e da comunhão de vida? Na grande comunidade paroquial onde as pessoas não se conhecem, não se relacionam como irmãos, não partilham suas esperanças, suas dificuldades e angústias, não celebram concretamente a vida e o amor, isso não é possível. Já uma paróquia formada de pequenas comunidades que favoreçam a partilha de vida, onde há proximidade afetiva, onde se formam discípulos missionários, esse encontro com Cristo, é possível. Nas pequenas comunidades, é possível a leitura orante da Palavra de Deus, o acompanhamento dos enlutados, a inserção dos novos cristãos, a preocupação com os pobres, a transmissão da fé pelo testemunho junto às crianças, adolescentes e jovens, a espiritualidade própria e variada dos movimentos e grupos, com suas vertentes de espiritualidade. Nos setores formados por vizinhança, por núcleos de interesses, grupos profissionais, por faixas etárias, ambiente de convivência, e muitas outras modalidades, Cristo vivo se faz presente, segundo a fórmula que ele mesmo ditou: "onde dois ou mais estão reunidos em meu nome, eu estou no meio deles" (Mt 18,20).

"Com a finalidade de levar a Boa-nova de Jesus a todos os povos, como o exige a nova evangelização, todas as Paróquias e suas pequenas comunidades devem ser células vivas, lugares para promover o encontro pessoal e comunitário com Cristo, para experimentar a riqueza da liturgia, para proporcionar uma formação cristã inicial e permanente e para educar a todos os fiéis na fraternidade e na caridade, especialmente para com os pobres."
Nesta perspectiva da nova evangelização para a transmissão e a vivência da fé em nossos dias e em nosso país, Comunidade de comunidades: uma nova paróquia, para que seja um instrumento de trabalho para as nossas Igrejas particulares e suas diversas e variadas comunidades presentes em todo o Brasil. Isso com a finalidade de auxiliar na necessária e urgente reflexão e operacionalização da conversão pastoral de nossas paróquias.
As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil - 2011-2015 (DGAE) propõem à Igreja "evangelizar a partir de Jesus Cristo e na força do Espírito Santo, como Igreja discípula, missionária e profética, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para que todos tenham vida (cf. Jo 10, 10), rumo ao Reino definitivo."
Por isso, a estrutura esquemática do presente documento busca enraizar, logo de início recuperar a comunidade como familia da grande familia (I Capítulo), a experiência eclesial, que se concretiza em nossas comunidades, na Palavra de Deus que nos ilumina e nos orienta através das palavras, dos gestos e da vida do próprio Cristo como Abbá, pai e dos seus discípulos. É a intimidade com o pai. É a Palavra de Deus que permite a todo cristão ver e julgar a realidade na qual está inserido e a qual é chamado a transformar com um novo ardor missionário através de um agir que contribua para que a paróquia em que vive seja, de fato, presença viva de Jesus Cristo, pela ação do Espírito Santo, em meio às pessoas e às famílias, em meios às casas e às cidades, como aquele que não se cansa de repetir: "Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos" (Mt 28, 20). A Igreja brota da Trindade e é nessa perspectiva trinitária que ela fundamenta sua vida comunitária.
No Capítulo II, busca-se compreender que, embora através de distintos modos de concretização da experiência cristã comunitária, a comunidade eclesial, ao longo da história, se consolidou, com maior ou menor êxito em certos períodos, através da escuta e da vivência da Palavra de Deus, transmitida e aprofundada através dos ensinamentos dos discípulos de Jesus. Esta realidade eclesial devia viver da comunhão fraterna e da caridade efetiva entre os membros de uma mesma comunidade ou realidade, sempre abertos a acolher o próximo; da Eucarística, vivida em todas as suas dimensões como fonte e ápice de toda a vida da Igreja; e da vida de perseverante oração. Estes elementos caracterizavam a comunidade paroquial como "Igreja Doméstica" (Domus Ecclesiae), viver junto a, habitar nas proximidades e era chamada a zelar tanto pelo culto quanto pela comunhão, pelo serviço, pelo testemunho e pelo anúncio da Boa-nova. No entanto, fez-se e faz-se necessário hoje propor uma renovação de nossas paróquias segundo o Concílio Vaticano II e as Conferências Latino-Americanos, para que elas possam ser cada vez mais comunidade de comunidades, como afirma o Documento de Aparecida. A paróquia acontece ao redor da casa (demus ecclesiae). É a Igreja que está onde as pessoas se encontram. É a casa da palavra, casa do pão, casa da caridade (ágape). A paróquia hoje é um instrumento importante para a construção da identidade cristã; é o lugar onde o cristianismo se torna visivel em nossa cultura e história.
O surgimento das paróquias
Nos primeiros dois séculos, os cristãos se reuniam em comunidades domésticas. Quando, em Roma, o cristianismo adquiriu a forma de uma organização central, este começou a influenciar as Igrejas Domésticas. Com o crescimento do número de cristãos, após o edito de Tessalônica (381), quando Teodósio era o imperador, as Igrejas Domésticas ficaram abaladas. As assembleias cristãs tornam- se cada vez mais massivas e anônimas. A antiga relação igreja- casa se enfraquece e se faz a introdução das paróquias territoriais. Desaparecem as fronteiras entre a comunidade eclesial e a sociedade civil e se identifi ca a paróquia com a igreja paroquial, caracterizada pelo local de reunião ou o templo. A partir do século IV aparece, de um lado, a diocese e, de outro, a paróquia. A diocese emerge como expansão das comunidades eclesiais urbanas. A paróquia vive como uma expressão dessa comunidade urbana única. Surgiram da expansão missionária da Igreja nos pequenos povoados que rodeavam as cidades. Eram paróquias rurais que, logo, se estendem pelas cidades devido ao crescimento populscional. Eram o resultado da impossibilidade do bispo com seu presbiterio, situado na cidade, de atender aos povoados mais distantes. Nascem de uma preocupação pastoral missionária. A paróquia, com o tempo, passará a ser essencialmente a Igreja instalada na cidade. Assim, haverá paróquia grande ou pequena de acordo com o tamenho das cidades.
A paróquia no Concilio Vaticano II
O Concílio Vaticano II não tem um documento ou uma parte específica sobre a paróquia, contudo, apresenta uma chave de leitura muito importante: a Igreja Particular.
A Igreja de Cristo está presente na Igreja Particular, como diz a Lumen gentium: "Esta Igreja de Cristo está verdadeiramente presente em todas as legítimas comunidades
locais de fiéis, que unidas com seus pastores, são também elas, no Novo Testamento, chamadas de igrejas". A paróquia, comunidade de comunidades, seria hoje a concretização histórica que torna visível a Igreja. É onde todos os que nela participam fazem a experiência de ser Igreja com uma multiplicidade de dons, de carismas e de ministérios.
O Concílio reflete sobre a Igreja Particular partindo da Eucaristia e insiste no valor da Igreja reunida em assembleia eucarística. Ela é fonte e cume de toda a vida cristã, onde se realiza a unidade de todo o Povo de Deus. Outra perspectiva para a redescoberta da Igreja Particular aborda a natureza missionária da Igreja. O Concílio, também, destacou a condição e a dignidade de todos os batizados.
A paróquia, porém, não é a Igreja Particular no sentido estrito, pois ela está em rede com as demais paróquias que formam a diocese, que é a Igreja Particular. Para o Concílio Vaticano II, portanto, a paróquia só pode ser compreendida a partir da Diocese. Em termos eclesiológicos, pode- se dizer que ela é uma "célula da diocese". A Igreja Particular é apresentada como porção (portio) do Povo de Deus; a paróquia, entretanto, é entendida como parte (pars) da Igreja Particular (diocese).

A comunhão com Deus se desdobra na comunhão com os bens salvíficos que ele nos oferece, especialmente a Eucaristia. São Paulo nos ensina: "O pão que partimos não é
comunhão com o corpo de Cristo? Porque há um só pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão" (1Cor 10,16- 17). Agostinho
qualifica a Eucaristia como "sinal de unidade e vínculo de amor"18 e o Concílio Vaticano II a apresenta como "fonte e ápice de toda a vida cristã"19 na relação com os outros sacramentos e, especialmente, com a Palavra. Pois, a Igreja "sempre venerou as divinas Escrituras, da mesma forma como o próprio Corpo do Senhor, já que principalmente na Sagrada Liturgia, sem cessar, toma da mesa tanto da palavra de Deus quanto do Corpo de Cristo, o pão da vida, e o distribui aos fiéis".

Essa Igreja é sacramento (mysterion), sinal e instrumento de comunhão. Ela tem sua origem na Santíssima Trindade. Na história ela se espelha na comunhão trinitária, e
seu destino é a comunhão definitiva com o Deus Uno e Trino. Para realizar sua missão, no mundo, a Igreja precisa de uma constituição estável, que há de ter por base a "comunhão", característica necessária a todas as formas de organização da vida eclesial.

A comunidade entendida no horizonte da comunhão tem, portanto, força profética no mundo contemporâneo marcado por traços profundos de individualismo. Quando se propõe uma nova paróquia como comunidade de comunidades, mais do que imaginar ou criar novas estruturas, trata- se de recuperar as relações interpessoais e de comunhão
como fundamento para a pertença eclesial. Não há outro elemento de natureza teológica mais importante.

É preciso reafirmar que, teologicamente, o fundamento da paróquia é ser uma comunidade eucaristica, que celebra a presença de Cristo Palavra e Eucaristia, estabelecendo os vínculos de comunhão entre os seus fiéis e remete todos à missao de testemunhar na caridade a verdade professada. Paróquia = Centro de Convergência dos Fiéis.
Para tanto, o Capítulo III nos apresenta desafios atuais e, por vezes, complexos, que se apresentam às nossas comunidades paroquiais e que devem ser enfrentados pelos discípulos-missionários de Cristo neste momento de mudança de época.
Analisar a realidade atual não é simples, a situação é complexa e muitas vezes mais do que podemos imaginar. Quando começa a refletir sobre a situação da paróquia, os desafios que ela enfrenta e o mundo de hoje, as respostas que encontramos é uma coisa complexa. Existem luzes e sombras, "alegrias e preocupações".
Dentro das luzes e sombras, há muita coisa boa acontecendo para a renovação das paróquias, mas, que também existem situações que impedem essa renovação.
Muitas paróquias e comunidades no país vivem uma intensa conversão pastoral, que vem de muitos anos. "Existem paróquias e comunidades preocupadas com a evangelização, como a catequese para a iniciação a vida cristã e na perspectiva bíblica. Temos paróquias numa liturgia viva e participativa, e ainda, comunidades que se preocupam com a juventude, que despertam serviços nos ministérios leigos. Temos paróquias com conselhos paroquiais e assuntos econômicos, além de grupos que participam ativamente da vida paroquial". As dificuldades existem, mas cabe aos párocos e colaboradores desenvolverem uma pastoral de comunhão e participação que permita a renovação.
As dificuldades atuais são desafios que podem também ser considerados como oportunidades de transformação no âmbito da vida pessoal e familiar, da comunidade e da sociedade, e que devem provocar urgente conscientização e ação em vista de uma renovada experiência eclesial. Não há receitas prontas para a pastoral, nem fórmulas válidas para evangelizar todas as situações. Conhecer a realidade das comunidades paroquiais é determinante para identificar caminhos possíveis para a renovação paroquial e a conseguente revitalização das comunidades cristãs.
A experiência paroquial atual se caracteriza por uma realidade fragmentada, difícil de ser concebida em sua totalidade. Em si, a paróquia não é um todo, pois está unida a outras paróquias formando a Igreja Particular, ou a Diocese. Igualmente, a paróquia está inserida na sociedade, recebe e oferece influências. É falsa, comunidade autônoma. Se, por um lado, é irrenunciável a dimensão comunitária para a fé cristã, por outro, se constata que a configuração atual da maioria das paróquias não é mais capaz de atender às exigências próprias da experiência humana e cristã, principalmente entre os adolescentes e jovens, comprometendo o seguimento de Jesus Cristo.
Considerando os três âmbitos da ação evangelizadora, é importante identificar os aspectos da pessoa, da comunidade e da sociedade que importam na renovação paroquial. Afinal, a pessoa vive em comunidade e está inserida numa sociedade. A paróquia, portanto, se relaciona com as pessoas e com a sociedade. Para humanizar a pessoa é indispensável a sua experiência comunitária e para humanizar a sociedade é preciso que a comunidade cristã tenha uma presença pública além de seus muros.
Desafios no ambito da pessoa: cresce a responsabilidade de cada pessoa "de construir sua personalidade e plasmar sua identidade social". O individualismo descarta a vida comunitária e faz com que a pessoa perca sua identidade, desvinculando-a do grupo, da tradição e até da paróquia. Tornando dificil a vivência cristã quando a pessoa recusa a se engajar na comunidade ou quando espera apenas resultados imediatos da religião (intimismo religioso, mudanças na familia).
Além dos desafi os do intimismo religioso, da privatização da religião e das novas configurações familiares, emergem os desafios à organização da comunidade cristã. Há diversas concepções sobre o termo comunidade na cultura atual. Ele é muito utilizado no mundo virtual, local que rompe com o espaço físico e constrói novos territórios baseados em diversos interesses, superando a noção de espaço e de tempo. Especialmente os jovens preferem as comunidades virtuais para se relacionar. Na paróquia atual, não é possível trabalhar com grupos de jovens sem levar em conta as redes sociais, para atrair e conectar interesses e motivações. Essa realidade implica a revisão da ação pastoral da paróquia.
As comunidades primitivas viviam da experiência do encontro com Jesus Cristo, pela fé, como razão maior para viver. O encontro com o Senhor determinava o estilo de vida
da comunidade e acabava atraindo novos cristãos. O discipulado gerava a comunidade. Por isso, o espaço físico não era o mais importante, mas, sim, a alegria dos irmãos por
estarem unidos na mesma experiência. Constata- se, portanto, o impasse quando se identifica a comunidade de fé com a comunidade física, territorialmente localizada. Não é o ambiente sociocultural que determina o espaço da fé.
A nova territorialidade: do físico ao ambiental
A territorialidade é considerada, há séculos, o principal critério para concretizar a experiência eclesial. Essa concepção está ligada a uma realidade mais fixista e estável.
Hoje, o território físico não é mais importante que o território das relações sociais. A transformação do nosso tempo provoca uma nova concepção dos limites paroquiais, sem delimitação geográfica. Habitar um determinado espaço físico não significa, necessariamente, estabelecer vínculos com aquela realidade geográfi ca. A mobilidade, especialmente urbana, possibilita muitos fluxos nas relações.
Por outro lado, na medida em que as paróquias crescem demograficamente, a tendência é fazer a divisão territorial. Essa delimitação geográfica nem sempre resolve o problema
dos vínculos comunitários, pois as pessoas agregam- se a comunidades independentemente do espaço físico. Apesar de o cânone 518 do CDC apresentar como critério usual para a criação de uma paróquia a territorialidade, é importante considerar que o mesmo cânone apresenta a possibilidade de a paróquia não territorial existir em função do rito, da nacionalidade ou de outra razão de natureza pastoral. Atualmente, essa segunda possibilidade de criação de paróquias precisa ser aprofundada.
A paróquia, enquanto é território fixo e estável, é questionada pela experiência de comunidades ambientais não delimitadas pelo espaço geográfico. O ser humano atual vive marcado pela mobilidade e pelo dinamismo de suas relações. As noções de espaço e de território passam por questionamentos. Prefere- se entender o espaço como lugar
habitado, onde as pessoas interagem e convivem. Assim a paróquia, sem prescindir do território, é muito mais o local onde a pessoa vive sua fé, compartilhando com
outras pessoas a mesma experiência. O referencial mais importante é o sentido de pertença à comunidade e não tanto o território. Por isso, alguém pode participar de uma
paróquia que não seja a do bairro onde reside. Não poucos preferem uma comunidade onde se sentem mais engajados, identificados ou acolhidos por diversos motivos:
participação em um movimento, horários alternativos de missa, busca de um bom pregador, vínculos com uma comunidade religiosa etc.
Existem ainda os desafios da sociedade: progresso cientifico e as novas tecnologias, avanço da informática e experiências de comodidades. Sociedade pós – cristã e o pluralismo cultural. Isso leva a urgência da renovação paroquial.

Capitulo IV
A renovação paroquial depende da atenção dada ao princípio comunitário da fé. Agora passamos a fazer uma reflexão pastoral com alguns indicativos para a urgente renovação
das comunidades paroquiais. Retomamos alguns pontos indicados na perspectiva bíblico- teológica, para que seja o espelho no qual as atuais comunidades e paróquias
se sintam refletidas e iluminadas em sua renovação.
Este último capítulo do documento delineia alguns traços fundamentais da identidade da comunidade cristã, apontando as suas bases para a efetiva experiência eclesial, marcada pelo agir de todos os batizados. Neste capítulo se recorda a necessária integração das diversas experiências de comunidade na comunhão paroquial e no compromisso com um planejamento conjunto de ação pastoral, em nível da Igreja particular ou local. Aponta-se ainda para a transformação das estruturas com o objetivo de aproximação e acolhimento mais humanizado das pessoas, membros ou não da comunidade; para a conversão e a articulação de todo o povo de Deus, ministros ordenados e leigos, através da responsabilidade concretamente partilhada; e para a adaptação às novas linguagens que caracterizam sobretudo as gerações mais jovens. Por fim, algumas proposições são avançadas no intuito de suscitar mais reflexão e aprofundamento em vista do exercício de uma caridade continuamente inventiva em nossas comunidades paroquiais.
Os Atos dos Apóstolos, pode ser visto o retrato da primeira comunidade cristã: eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir
do pão e nas orações (cf. At 2,42). Conforme o exemplo das primeiras comunidades cristãs, a comunidade paroquial se reúne para partir o pão da Palavra e da Eucaristia e
perseverar na catequese, na vida sacramental e na prática da caridade.

O lugar privilegiado para as pessoas realizarem uma experiência concreta de encontro com Jesus Cristo é a comunidade eclesial.62 A paróquia, como comunhão de comunidades, sente- se desafiada a vencer a tentação de fechamento e apatia em relação aos outros. Viver em comunidade implica, "necessariamente, convívio, vínculos
profundos, afetividade, interesses comuns, estabilidade e solidariedade nos sonhos, nas alegrias e nas dores"
Somente no encontro com Jesus Cristo, especialmente pelo contato com a Palavra de Deus, é que o cristão poderá enfrentar a situação atual de pluralismos e incertezas. Essa comunhão com a Palavra se faz na unidade com todos os que a acolhem, isto é, a comunidade cristã. A Palavra é saboreada na experiência de ser Igreja, lida e compreendida como Povo de Deus, que caminha rumo à pátria defi nitiva.

Viver da Eucaristia: ser comunidade sacerdotal- A celebração da fração do pão é o ponto alto da vivência pascal das primeiras comunidades cristãs. Trata- se de uma comunidade pascal que celebra a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. Essa certeza era traduzida em suas liturgias de forma viva. Hoje, nossas celebrações precisam recuperar esse sentido pascal em comunidade; afi nal, a Eucaristia é o lugar privilegiado do encontro do discípulo com Jesus Cristo.

Viver na caridade: ser comunidade do Reino- A Igreja, expressão do amor da Trindade, é a comunidade da caridade. O amor ao próximo, radicado no amor de Deus, é um dever de toda a comunidade eclesial. Tal atitude se expressa de forma muito concreta: "A caridade cristã é, em primeiro lugar, simplesmente a resposta àquilo que, numa determinada situação, constitui a necessidade imediata: os famintos devem ser saciados, os nus vestidos, os doentes tratados para se curarem, os presos visitados etc". O cuidado com os necessitados impele a comunidade a defender a vida desde a sua concepção até o seu fim natural.

Comunidade de comunidades
A setorização da paróquia
A grande comunidade, praticamente impossibilitada de manter os vínculos humanos e sociais entre todos, pode ser setorizada em grupos menores que favoreçam uma nova forma de partilhar a vida cristã. A paróquia descentraliza seu atendimento e favorece o crescimento de lideranças e ministérios. Não se deixa a referência territorial das comunidades maiores e as matrizes, mas se criam novas unidades sem tanta estrutura administrativa.

A renovação paroquial permite entender que há formas de se viver o cristianismo, diferentemente das comunidades territorialmente estabelecidas. Trata- se de superar
a visão unilateral de vivência comunitária, pois, "num mundo plural, não se pode querer um único modo de ser comunidade". São as comunidades ambientais e afetivas
que independem do território. A pluralidade de configurações expressa diferentes formas de buscar Jesus Cristo.
O desafio da renovação paroquial está em estimular a organização dessa e de outras comunidades, para que promovam sua integração na paróquia. A unidade paroquial
das diversas comunidades é indispensável para que todos se sintam unidos afetiva e efetivamente. Isso se realiza pelo vínculo e pela partilha da caminhada, mas também
pelo planejamento pastoral, pela ação do conselho paroquial de pastoral e do pároco.
A revitalização das comunidades, com a renovação paroquial, implica muito mais do que a setorização e a integração das comunidades, dos movimentos e dos grupos. Será
preciso uma verdadeira conversão pastoral de todos. Assim, a paróquia poderá reunir e ser referência para os cristãos, sem esgotar toda a vida da comunidade. Ela evitará tanto a centralização quanto a uniformização. A vitalidade da paróquia está na animação das diferentes formas de expressar a vida em comunidade. Só assim, a paróquia será um polo de encontro e dinamização de diferentes experiências.

A nova evangelização exige um renovado empenho para proporcionar um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo. Para isso, será preciso criar espaços, momentos
e condições para que esse encontro se realize. Essa experiência é ao mesmo tempo, íntima e pessoal, pública e comunitária.

A conversão pessoal e a pastoral andam juntas, pois se fundam na experiência de Deus que as pessoas e as comunidades conhecem. Só assim será possível ultrapassar
uma pastoral de mera conservação ou manutenção, para assumir uma pastoral decididamente missionária; uma atitude que, corajosa e profeticamente, o Documento de Aparecida chamou de conversão pastoral. Para que essa realidade aconteça, os bispos, os presbíteros e todo o Povo de Deus precisam assumir sua responsabilidade na revitalização das comunidades.
Trassformar as estruturas
A sociedade atual vive na interatividade. As pessoas participam, opinam e se posicionam sobre as diferentes realidades do mundo. A conversão pastoral supõe considerar a importância dos processos participativos de todos os membros da comunidade. Para desencadear essa participação, é preciso estimular o funcionamento dos conselhos comunitários e paroquiais de pastoral, bem como a assembleia paroquial. Igualmente, o conselho de assuntos econômicos da paróquia é determinante para o bom funcionamento e planejamento financeiro da comunidade. Integrado ao conselho paroquial de pastoral, o conselho de assuntos econômicos saberá planejar o investimento de recursos nas urgências e não apenas nos recursos materiais da comunidade.
Não pode haver dissonância entre o conselho paroquial de pastoral e o de assuntos econômicos. Para isso, o conselho paroquial de pastoral será formado por discípulos missionários. O conselho de assuntos econômicos, junto com toda a comunidade paroquial, trabalhará para obter os recursos necessários de maneira que a missão avance e se faça realidade em todos os ambientes.118 Para tanto, é urgente superar a mentalidade que prioriza construções e obras materiais e abdica de investir na formação das pessoas. Os leigos precisam ser apoiados, em suas comunidades, seja para a realização de cursos e encontros, seja para manter a unidade com a Diocese, seja para aprofundar o conhecimento de seu serviço e de pastoral.
Paróquias são pessoas jurídicas que precisam prestar contas a quem as sustenta e ao Estado brasileiro, daí a necessidade de uma gestão qualificada e transparente, de acordo com as normas contábeis, a legislação vigente, civil e canônica.

A transmissão da fé: novas linguagens
Diante das novas possibilidades de comunicação e dos novos tipos de relacionamento que a mídia possibilita, a comunidade também interage de forma diferenciada com seus fiéis. O ser humano atual é informado e conectado, acessa dados e vive entre os espaços virtuais. A ausência da paróquia, nesses meios, é quase inconcebível.
Embora se use muito a palavra comunidade, muitas paróquias permitem uma vivência comunitária apenas para um grupo mais ligado à pastoral e ao pároco. Geralmente, são paróquias com grande extensão territorial e elevado número de pessoas que frequentam as celebrações. Essa compreensão de paróquia ainda está muito ligada a um espaço físico, mais fixo. Diante da mobilidade das pessoas e do fluxo das relações, esse modelo paroquial conhece certo saturamento.

Proposições
a) Criatividade
Usar a criatividade para atender melhor as pessoas que vivem em diferentes ritmos da vida diária. Adaptar- se aos horários do movimento urbano: missas ao meio- dia, atendimento do padre à noite, catequese de crianças e adultos em horários alternativos, especialmente nas grandes cidades.
Valorizar a beleza e a simplicidade dos espaços da comunidade, pois o ser humano vive marcado pela cultura do belo. Oferecer espaços para a meditação, a adoração ao Santíssimo, a oração pessoal. Criar clima favorável e tempos propícios para quem procura as comunidades cristãs.

b) Pequenas comunidades
A comunidade menor favorece os valores do relacionamento interpessoal. Procurar criar novas comunidades a partir de grupos que se reúnem para viver a sua fé, alimentar
sua espiritualidade e crescer na convivência. A setorização pode ser estabelecida pela vizinhança do bairro ou pelos moradores de condomínios, mas também por afinidades
sem delimitação territorial, como jovens, universitários, idosos, casais, etc. O importante é criar comunidades com pessoas que se integrem para melhor viver a fé cristã.
Essas comunidades, ao viver um espírito de abertura missionária, acolherão pessoas novas no grupo. Será uma excelente proposta de itinerário para a vivência da fé a ser oferecida aos que procuram um engajamento na comunidade ou na paróquia.

c) Ministérios leigos
Para que as comunidades possam ser bem atendidas, em função das diversas necessidades, a Igreja, sob inspiração do Espírito Santo, se organiza com diferentes ministérios.
Aos leigos podem ser confiados ministérios e responsabilidades "para prestar auxílio a toda a iniciativa apostólica e missionária da sua comunidade eclesial". Destaque especial deve ser dado ao ministério da Palavra, por meio do qual homens e mulheres tornam- se autênticos animadores de comunidades.

d) Formação

A renovação da paróquia e das comunidades depende de agentes de pastoral preparados para essa nova mentalidade. É necessário reforçar uma clara e decidida opção pela
formação de todos os membros das comunidades. Trata- se de um itinerário que implica uma aprendizagem gradual e requer caminhos diversificados que respeitem os processos pessoais e os ritmos comunitários.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Jesus Cristo é nossa razão de ser, origem de nosso agir, motivo de nosso pensar e sentir. Nele, com ele e a partir dele mergulhamos no mistério trinitário, construindo nossa vida pessoal e comunitária.
A paróquia é a grande escola da fé, da oração, dos valores e dos costumes cristãos. Nela vive a Igreja reunida em torno do Senhor. Ela existe para unir os cristãos ao seu Senhor
e atrair muitos outros para essa grande família de Deus, a Igreja: sacramento da salvação. Afinal, a paróquia continua sendo uma referência importante para o povo cristão, inclusive para os não praticantes. Ela pode se tornar um farol sempre mais luminoso, especialmente em tempos de incertezas e inseguranças. Na paróquia, cada pessoa deveria ter a possibilidade de fazer o encontro com Jesus Cristo e integrar- se na comunidade dos seus seguidores.
A paróquia, contudo, precisa de uma renovação urgente. As mudanças da realidade clamam por uma nova organização, especialmente articulada em pequenas comunidades, capazes de estabelecer vínculos entre as pessoas que convivem na mesma fé. Entretanto, mesmo setorizada, a paróquia depende de uma nova evangelização, de uma ousadia missionária capaz de fortalecer o testemunho e estimular o anúncio. Isso implica renovar o ministério do pároco, pastor e animador do povo que lhe foi confiado.
A paróquia, como comunidade de comunidades, precisa integrar as comunidades religiosas, as associações religiosas, as CEBs, os movimentos, as pastorais sociais, as novas comunidades de vida e de aliança, os hospitais, as escolas e as universidades, além das comunidades ambientais. Para que todos vivam na pluralidade da experiência de fé, na diversidade de carismas e de dons, a unidade indispensável à vida cristã. Os dois grandes desafios que se impõem são acolher essas múltiplas formas de vida cristã como uma riqueza de dons que o Espírito Santo oferece à Igreja e manter unidos os diferentes grupos, para que, em tudo, a caridade de Cristo seja testemunhada publicamente.
Finalmente, é preciso olhar para o futuro da paróquia, como comunidade de comunidades, com esperança de vencer o vazio e o deserto de muitas pessoas. A crise de valores é notável. E, apesar de o Brasil ter muita expressão de religiosidade, também aqui se percebe o quanto a fé não decide mais os destinos da vida social e da pessoal.
Vive- se um tempo de buscas, mas com base em decisões privadas de referências da fé.
Confiando na ação do Espírito Santo, as paróquias têm condições de compreender que esse é o tempo oportuno para uma nova evangelização. Há muita sede e, em Cristo, há a água que sacia toda sede humana. Compete a elas, como rede de comunidades, facilitar o acesso a essa Água Viva. Feliz a comunidade que é um poço dessa Água Viva, do qual todos podem se aproximar para saciar sua sede.
E ainda ao se concluir com as considerações finais, o presente documento convida a Igreja do Brasil a repensar sua vocação lá onde esta se concretiza no dia a dia das pessoas e comunidades, e propõe, para isso, que as paróquias, as Igrejas particulares e os Regionais da CNBB, assumam-no em suas assembleias ou organizem encontros, para recolherem contribuições na linha da reflexão, da operacionalização, das sugestões e da partilha de experiências quanto ao tema Comunidade de comunidades: uma nova paróquia.

ESQUEMA DO DOCUMENTO DE ESTUDOS 104 DA CNBB 2013

CAPITULO I
Perspectiva Bíblica

Recuperar a comunidade
A nova experiência de Deus: o Abbá
A missão do Messias
A novidade do Reino
Um novo estilo de vida comunitária
O novo modo de ser pastor
O ensinamento novo
A nova Páscoa
Pentecoste: o novo Povo de Deus
A nova comunidade cristã
A missão
A nova esperança: a comunidade eterna

Capitulo II
Perspectiva teológica
A Igreja Domestica (Demus Ecclesiae)
O surgimento das paróquias
A paróquia no Concilio Vaticano II
A renovação paroquial na América Latina e no Caribe
A paróquia como casa
Casa da palavra
Casa do pão
Casa da caridade (ágape)
A paróquia hoje

Capitulo III
Novos contextos: desafios à paróquia
Desafios no âmbito da pessoa
Intimismo religioso
Mudanças na família
Desafios na comunidade
A nova territorialidade: do físico ao ambiental
Estruturas absoletas na pastoral
Entre o relativismo e o fundamentalismo
Desafios da sociedade
A sociedade pós- cristã
O pluralismo cultural
A urgência da renovação paroquial

Capitulo IV
Perspectivas pastorais
Recuperar as bases da comunidade cristã
Viver da palavra: ser comunidade profética
Viver da Eucaristia: ser comunidade sacerdotal
Viver na caridade: ser comunidade do Reino
A comunidade das comunidades
A setorização da paróquia
Integração de comunidades, movimentos e grupos
Revitalização da comunidade
A conversão pastoral
A conversão dos ministros da comunidade
Protagonismo dos cristãos leigos
Transformar as estruturas
A transmissão da fé: novas linguagens
Proposições
Criatividade
Pequenas comunidades
Ministérios leigos
Formação
Catequese de iniciação à vida cristã
Jovens
Liturgia
A caridade
Perdão e acolhida
Considerações finais