Era alegre aquele dia da Páscoa semanal da Igreja, embebido nas esperanças da verde liturgia. Fora esse, porém, o dia estabelecido pela Onipotência Divina para chamar a si um grande sacerdote.

Uma bruma de nebuloso pesar cobriu a Igreja ao correr incauta a notícia de que a renhida enfermidade fizera por ceifar a vida do apostólico Arcebispo de Campinas.

Todos, apreensivos, acompanhávamos a sucessão de lances da repentina enfermidade de Dom Bruno Gamberini. Parecia, porém, resistir o arcebispo. A união de orações em que se irmanou a grande Arquidiocese do interior paulista, sensibilizou todo o Brasil. Esperou a Nação Católica que em rápido porvir poder-se-ia vê-lo restituído no exercício de suas altas funções.

Nessa hora, no entanto, por critérios que não nos cabe compreender, considerou-se findar a frutífera missão. Com a parca idade de sessenta e um anos foi interrompida a trajetória de grandes fadigas pela salvação das almas e felicidade da Santa Igreja. Heróico, fez do leito de sua enfermidade uma Cátedra de tão nobres ensinamentos, quanto aquela que se assenta majestosa sob o dossel do sólio, na venerável Sé da Senhora da Conceição de Campinas, evocativa tantas glórias da Igreja e do Brasil.

Homem de grandes ideais e de tantos combates, lutou intrepidamente contra o mal que o privava de conduzir o Báculo que a Igreja lhe pusera às mãos. Os passos de sua via crucis, qual lâmpada colocada no alto, à vista de todos, fez-nos vivificar o sentido da esperança e da resignação. Desejou, o pastor extinto, doar-se e intensamente doar-se, pelo rebanho que lhe fora confiado.

As escrituras sagradas ensinam que Abel mesmo morto ainda fala. O inesquecível arcebispo de Campinas, ora adormecido com nossos maiores, nos fala, igualmente, pela fé e pelos exemplos. Os sólios nos quais assentou-se, seja aquele de Bragança Paulista ou o de Nossa Senhora da Conceição de Campinas, testemunham da grandeza do ministério de Dom Gamberini.

Cumpridas essas coisas, o clero e o povo de Campinas, trasladaram os venerandos restos mortais de seu amantíssimo pastor para a sua sede, e sufragado, o sepultaram junto à plêiade de antístites que tanto honraram a Sé de Campinas e o episcopado de nosso país. Estará para sempre imortalizada, naquele monumento, a passagem, relativamente breve, deste grande bispo, seguidor de Jesus e sucessor dos Apóstolos. Já a sua memória, essa se conservará nos corações, que trarão sempre o clarão dos exemplos de Dom Bruno, que em época de turbas murmurantes e procelas ignominiosas, Deus suscitou para conduzir o seu povo.

Imperativo considerar a impossibilidade de exprimir de maneira completa o significado da orfandade prematura, quiséramos, qual Nosso Senhor no Horto, pedir ao Pai afastasse da Igreja o Cálice desta perda. A fé, porém, nos garante: em Cristo, o Arcebispo vive.

 

Pe. Wagner Augusto Portugal

Vigário Judicial da Diocese da Campanha - MG